Incêndios em imóveis no Grande Recife acendem alerta para riscos estruturais; entenda
Após dois casos registrados em menos de 24 horas, engenheiro destaca os impactos do fogo em prédios e orienta síndicos e moradores sobre medidas de segurança
Dois incêndios registrados na segunda-feira (9) em imóveis residenciais no Grande Recife - um no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, e outro no bairro de Casa Caiada, em Olinda - acenderam um alerta sobre os riscos e consequências do fogo em estruturas de prédios.
As causas dos dois casos ainda estão sendo investigadas, mas especialista chama a atenção para os impactos físicos e os cuidados que devem ser tomados com os edifícios após esse tipo de ocorrência.
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Na ocorrência da Encruzilhada, um homem de 48 anos e dois cães de estimação morreram após inalar grande quantidade de fumaça.
Poucas horas depois, em Olinda, outro apartamento foi destruído pelas chamas. Para além do trauma e das perdas, imóveis submetidos a temperaturas extremas podem ter a integridade comprometida.
Segundo o engenheiro civil e mestre em construção civil Luiz Fernando Bernhoeft, tanto o concreto quanto o aço, principais componentes estruturais de edifícios, podem sofrer danos severos quando submetidos a temperaturas elevadas.
“Pode haver alterações nas propriedades estruturais devido ao calor intenso, acima de 300ºC, o cimento hidratado começa a decompor-se, e entre 500ºC e 600ºC, ocorre significativa redução da resistência e durabilidade”, explica.
“Acima de 500ºC, ele tem uma drástica redução de capacidade mecânica, podendo atingir menos de 50% da resistência original a 600ºC”, detalha Bernhoeft.
O especialista reforça, ainda, a importância de realizar uma avaliação técnica após o ocorrido.
“É fundamental realizar uma avaliação técnica minuciosa. Danos térmicos podem causar fissuras, deslocamentos excessivos (fluência térmica), desalinhamentos de vigas e pilares, e desbalanceamento dos esforços estruturais, o que pode sobrecarregar elementos vizinhos”, alerta Bernhoeft.
Outro efeito comum após incêndios é o desplacamento de revestimentos - reboco, pintura, impermeabilizações - especialmente nas fachadas, o que pode resultar em acidentes com queda de materiais.
“Qualquer revestimento – reboco, pintura, impermeabilização – pode queimar ou soltar-se, expondo a estrutura diretamente ao fogo e acelerar a deterioração do concreto”, explica.
Manutenção constante pode salvar vidas
Além dos impactos físicos na estrutura, o especialista reforça que a maior parte das mortes em incêndios ocorre por asfixia, e não por queimaduras. Nesse sentido, os sistemas de proteção contra incêndio precisam estar em pleno funcionamento.
"Grande parte das mortes em incêndios ocorre por asfixia causada pela fumaça, não por queimaduras. É por isso que portas corta-fogo — que na prática também funcionam como ‘portas corta-fumaça’ — são tão importantes. Uma simples regulagem que garanta o fechamento automático das portas pode significar a diferença entre a vida e a morte", alerta o engenheiro.
Entre os itens que devem ter manutenção regular estão extintores, hidrantes, sinalização, iluminação de emergência e portas corta-fogo, conforme exigido por normas técnicas e legislações municipais.
A responsabilidade por essas manutenções é dos síndicos e es prediais. Para o engenheiro, a atuação da engenharia civil vai além da reconstrução após incêndios.
“A engenharia civil não está apenas na reconstrução pós-incêndio, mas também na prevenção, por meio de inspeções, manutenção predial e planejamento. Essa cultura de prevenção ainda é pouco difundida nos condomínios, mas é fundamental para salvar vidas”, concluiu.