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Música Preta

Amaro Freitas e Zé Manoel convidam Alaíde Costa em show do "Clube da Esquina", quinta (12)

Artistas pernambucanos interpretam o premiado álbum mineiro com participação da cantora carioca, às 21h, no Teatro Guararapes

nesta quinta-feira (12), às 21h, no Teatro Guararapes, para interpretar o premiado álbum mineiro “Clube da Esquina”, com participação especial da cantora Alaíde Costa, considerada a “mãe da bossa nova”.

Diferente do primeiro show desse projeto em Pernambuco, apresentado em dueto na Caixa Cultural Recife, em setembro de 2023, desta vez os dois estarão acompanhados por Sidiel Vieira (baixo acústico), Henrique Albino (sopros) e Rodrigo Braz (bateria).

A presença de Alaíde, única mulher a participar da gravação do original de “Clube da Esquina”, dividindo os vocais da canção “Me Deixa em Paz” com Milton Nascimento, torna o show ainda mais imperdível. 

No palco, Zé Manoel - que sempre teve o piano como sua zona de conforto - se desafia a apenas cantar na maior parte do tempo. Há, ainda, momentos de piano a quatro mãos e outros em que Zé está nas teclas enquanto Amaro toca percussão. 

Tributo
O lendário LP “Clube da Esquina”, considerado pela crítica como um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos, foi lançado há mais de 50 anos (1972) pelo grupo mineiro homônimo formado por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Ronaldo Bastos, Toninho Horta e Fernando Brandt, misturando MPB, bossa nova, rock progressivo e psicodélico, jazz e música tradicional.

Canções como “Tudo que Você Podia Ser”, “Cais”, “O Trem Azul” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo” ganham nova roupagem nos arranjos de Amaro Freitas para as canções do álbum selecionadas por Zé Manoel.

“O desafio era entender esse disco do zero. Eu não queria descaracterizar os arranjos demais. Mas, ao mesmo tempo, entendendo que era um piano tocando, já ia soar diferente e esse piano teria que ‘abraçar’ a voz de Zé Manoel”, detalha Amaro Freitas. 

Alaíde Costa
Aos 89 anos, a cantora e compositora carioca Alaíde Costa se aproximou mais de Amaro e Zé Manoel depois de convidar os dois para participarem seu mais recente disco, em homenagem a Dalva de Oliveira. E a artista esteve presente nas três apresentações do tributo ao “Clube da Esquina” promovidas em São Paulo. 

“Participar da gravação original do 'Clube da Esquina', ao lado do Milton, é uma lembrança muito viva e bonita para mim. Cantar ‘Me Deixa em Paz’ naquele momento foi um presente. Pouca gente sabe, mas essa era uma música de Carnaval composta por Airton Amorim e Monsueto que eu gravei do meu jeito. Agora, 53 anos depois, estar nesse tributo ao lado de dois artistas tão talentosos como o Amaro Freitas e o Zé Manoel me emociona profundamente”, diz Alaíde.

“Eles trazem um frescor, uma profundidade e uma entrega que me lembram o espírito daquela época, e ao mesmo tempo apontam para um futuro promissor da nossa música. É bonito ver a obra se renovar com tanto respeito e liberdade”, completa a cantora.

  • Foto: Renata Casagrande/Divulgação
    Foto: Renata Casagrande/Divulgação
  • Foto: Renata Casagrande/Divulgação
    Foto: Renata Casagrande/Divulgação
  • Foto: Renata Casagrande/Divulgação
    Foto: Renata Casagrande/Divulgação
  • Foto: Paula Maestrali/Divulgação
    Foto: Paula Maestrali/Divulgação

Música preta
A presença de Alaíde Costa no show é celebrada pelos pernambucanos, que a têm como referência de representatividade negra na música brasileira.

“A primeira bossa nova chegou para a gente com 'Chega de saudade' e todo esse repertório de Vinicius e Tom Jobim. Depois é que a gente foi descobrindo e entendendo esses personagens que foram figuras pretas e que não tiveram a mesma relevância, como Alaíde Costa, João Alceu, Dom Salvador, Laércio de Freitas, Tânia Maria”, conta Amaro. 

“Eu vinha muito interessado em Alaíde e Johnny Alf, pela história dos dois, por eles terem a ver com o que eu já tinha estudado antes da bossa nova, através de artistas brancos. Então, quando eu descobri que existiam eles dois, eu comecei a me debruçar mais para tentar descobrir e entender mais esse processo deles”, lembra Zé Manoel.

Início da parceria
A convite da Vitrola Produções, Amaro Freitas foi chamado para assumir o projeto com a homenagem ao Clube da Esquina para o Sesc 24 de Maio, em São Paulo. Segundo Amaro, foi cogitada a participação de Criolo, por conta do projeto que fizeram juntos com Milton Nascimento. Mas ele decidiu, então, fazer o convite ao seu conterrâneo Zé Manoel.

“Sempre achei muito bonita essa forma como o Zé constrói as melodias, como ele tem essas harmonias. E sempre ouvi todos os discos dele. Uma vez, fiquei cantando várias músicas para ele. E ele também ficou sabendo de mim ali um cara que tava chegando, que era uma geração de 10 anos mais novo. Só que ninguém dava o primeiro o para fazer algo juntos”, recorda Amaro.

Bastidores
A turnê de apresentações do projeto tem rendido boas histórias. “Sempre antes de começar o show, eu vou ao banheiro porque sou um senhor hipertenso, né? Eu tomo um remédio, um diurético que sempre me dá vontade de ir ao banheiro. E aí, sempre que eu estava no banheiro ainda e eles entravam no palco eu reclamava. ‘Porra, bicho sacanagem!’, eles nem deram falta da minha presença ali, tipo, achavam que eu estava no grupo e entraram”, lembra Zé Manoel.

“Sabe qual foi a reclamação dele? Hum. Porra, vai parecer que eu sou o artista assim. Podia ser o contrário, né? Eu queria ser igual a vocês”, recordou Amaro. 

Outro fato curioso foi a aproximação de Alaíde Costa e Zé Manoel, que quebraram o gelo - os dois são muito tímidos - brindando no camarim, no primeiro show juntos, em Santo André. “Ela aí gosta de beber um whisky e Zé gosta de beber uma cachacinha. Só que eles dois colocam no copo que parece que é água. Então, ali já rolou um ‘prova essa cachacinha!’, daí ela provou e disse ‘Ai meu Deus, Amaro! Zé tá me dando cachaça! Aí já foi criando uma conexão através das bebidas. E eu no meu chá!”, recorda Amaro.

“Acho que a música que a gente faz é sobre isso, né? A música que a gente faz é uma música colaborativa, é uma música que fala sobre compartilhamento. Eu não tô sozinho no palco, né? Inclusive, uma única vez que eu entrei primeiro, eu levei uma bronca da porra”, comenta o pianista recifense.



Primeiros shows com Alaíde
“Esse primeiro show que a gente fez já foi muito emocionante, porque no momento que ela entra no show, a galera fica maluca, aplaude muito. É um momento que ela se emociona muito. E aí todo mundo meio que fica querendo chorar, porque ela fala: ‘É tão bom receber esse reconhecimento agora”, lembra Amaro, destacando o fato da artista ter recebido a devida atenção da crítica e do público tão tardiamente.

“Ela sempre foi muito fina, muito elegante. E, agora uma coisa que, que me surpreende, assim, que é, a turma que trabalha com ela hoje, é uma turma que me parece que cuida muito bem dela. Eu percebo ela feliz à vontade, relaxada. Você não vê uma atenção em uma uma uma equipe que fica obrigando a pessoa a fazer as coisas para ganhar dinheiro. Você percebe que as pessoas que estão ao redor dela gostam de verdade dela e tem aquele cuidado”, relata Amaro.

“[Alaíde] vai fazer 90 esse ano e ela continua cantando tudo de cor, aprendendo canções novas, enfim, é muito ativa. Acho que esse show com com Amaro, do Clube da Esquina, me deu a possibilidade de me aproximar mais dela. Inclusive, a presença de Amaro foi um pouco responsável por isso, pelo fato dele ser mais desenvolto. não é uma pessoa tímida. Consegui ar ela assim, a gente acabou criando uma relação muito mais próxima e tem sido bem importante esse encontro com ela”, compartilhou Zé Manoel.

Sobre os artistas
Amaro Freitas - Pianista, compositor, arranjador e diretor musical recifense, Amaro traz no jazz a linha condutora da sua carreira artística. 

Os álbuns “Sangue Negro” (2016), “Rasif” (2018), “Sankofa” (2021) e o aclamado "Y'Y" (2024), eleito Melhor Disco do Ano pela APCA e Melhor Álbum Instrumental do Ano pelo Prêmio da Música Brasileira, narram o amadurecimento da sua trajetória artística. 

Ano ado, o pernambucano foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Canção em Língua Portuguesa e sagrou-se vencedor do Prêmio Multishow como Melhor Instrumentista do Ano. 

Atualmente, está em circulação mundial com shows de lançamento de "Y'Y". Entre tantas parcerias, Amaro já colaborou com artistas como Lenine, Sandy, Criolo e Milton Nascimento.

Zé Manoel - Pianista, compositor e cantor pernambucano de Petrolina, Zé Manoel é conhecido e reverenciado pela crítica e pelo público atento à música independente brasileira. 

Tem cinco discos e um DVD lançados no Brasil, sendo dois editados no Japão. “Delírio de um Romance a Céu Aberto” (2016) foi vencedor do Prêmio da Música Brasileira na categoria Projeto Especial. 

“Do Meu Coração Nu” (2020) foi indicado ao Grammy Latino como Melhor Disco de Música Brasileira. 

Hoje está em turnê com “Coral”, apontado como um dos 50 melhores discos de 2024 pelo Prêmio APCA. Sua obra já foi gravada por artistas como Ana Carolina, Elza Soares, Fafá de Belém e Vanessa da Mata.

Alaíde Costa - Cantora e compositora brasileira, Alaíde Costa começou sua carreira na década de 1950 e se destacou nos anos 1960 como uma das grandes intérpretes da música brasileira. 

Sua voz suave e emotiva conquistou o público e a crítica, e ela se tornou conhecida por sua interpretação de canções delicadas, especialmente do gênero modinha. 

Ao longo de sua carreira, Alaíde Costa gravou diversos álbuns e colaborou com importantes músicos e compositores brasileiros. 

Sua contribuição para a música brasileira é amplamente reconhecida, e ela continua a ser uma figura respeitada e atuante na cena musical brasileira. 

SERVIÇO:
Tributo a “Clube da Esquina”, com Amaro Freitas e Zé Manoel 
Quando: Quinta, 14 de junho, às 21h.
Onde: Teatro Guararapes
Ingressos: a partir de R$ 100, no site Cecon Tickets e na bilheteria do teatro.

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